Dia dos Namorados – Como se namorava antes e como se namora agora?

Timor Post - Reportagem
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Reportagem de Isaura Lemos de Deus

No Dia dos Namorados, também conhecido como o Dia de São Valentim, o Timor Post dá-lhe a conhecer duas histórias de amor. O conceito de amor e a forma como se namora mudaram muito.

Florindo Cristóvão, de 56 anos, conta que no seu tempo muitos casais nem chegavam a namorar, principalmente no interior do país. Os casamentos eram arranjados pela família. A ideia de amor romântico não existia. Não sabiam o que era namorar. E, quando namoravam, havia uma vigilância apertada dos mais velhos. Comunicava-se clandestinamente. Os que sabiam ler e escrever, enviavam cartas românticas através de colegas. Os mensageiros do amor, os manu-talin, foram substituídos por telemóveis. Já Ana, de 27 anos, começou a namorar e a viver o amor à distância, através do telemóvel e da internet. E foi ela a dar o primeiro passo. Estes dois casos mostram que os conceitos de namoro e de amor mudaram muito ao longo dos tempos.

Celebrar o Dia de São Valentim tornou-se comum em Timor-Leste. Entregam-se flores, trocam-se presentes entre amigos, namorados. Mas quem era Valentim e por que razão ficou ligado ao amor? O bispo Valentim lutou, durante a era romana, contra as ordens do imperador Cláudio, que proibia o casamento nas épocas de guerras, acreditando que os solteiros eram melhores soldados. Apesar da proibição, São Valentim continuava a celebrar casamentos, e, por isso, quando foi descoberto, foi preso e condenado à morte. No entanto, os jovens continuavam a enviar-lhe flores e bilhetes e a dizer-lhe que ainda acreditavam no amor. Enquanto estava na prisão, Valentim apaixonou-se pela filha cega de um carcereiro e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Antes de receber a sua pena, Valentim escreveu-lhe uma mensagem de adeus, na qual se assinava como “Seu Namorado” e “De seu Valentim”.

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Não se conheciam, mas começaram a amar-se

Florindo Cristóvão casou com Ana há 32 anos. Deram o nó a 05 de outubro de 1995, quando ele tinha 32 anos e ela 21. Nem a conhecia antes e não chegaram a namorar. Foi um casamento arranjado.

“Começámos a namorar nos finais de 1993, quando era professor de Inglês numa Escola Secundária Agrícola Católica em Lospalos (SPP D. Bosco, Fuiloro), depois de acabar os estudos em Surabaya”, conta com um sorriso.

Segundo Florindo, a maior parte dos jovens daquele tempo não sabia o que era o amor. Ele próprio só ouviu falar do amor romântico, quando chegou à Universidade em Surabaya, Indonésia. Só aí também ficou a sar da existência de um Dia de São Valentim.

Florindo reconhece, contudo, que na cidade havia quem namorasse. “Talvez um por cento dos timorenses”, diz.

No seu caso, o amor chegou depois do casamento. Construiu-se pouco a pouco. Para Florindo, o casamento foi a fundação e os blocos foram sendo colocados. Admite, no entanto, que não foi fácil. Os desafios foram muitos. “Com certeza que há muitos [desafios]. É humano. Sou descendente de uma cultura patriarcal. Não nos chegámos a conhecer, nem por sonhos. Depois casámos. Não temos filhos, mas ainda mantemos o nosso casamento, como católicos. Talvez essa seja a real essência do Dia de São Valentim”, diz com convicção.

Florindo conta que o facto de não ter filhos põe à prova o amor dos dois. Não pelo casal, mas pelas pressões sociais. “Não considero um problema significativo. Todos os meus irmãos e irmãs têm filhos e, na nossa cultura, os meus sobrinhos são considerados meus filhos também”, afirma.

Florindo considera que os namoros de hoje são mais modernos e os jovens têm outras condições, como os telemóveis e as redes sociais, que fazem do longe mais perto. “Os jovens, agora são mais livres, quer dizer, possuem mais liberdade, mais meios e condições na escolha do seu par, comparando com os dos nossos tempos”, conta com risos. “São mais sofisticados”, conclui.

Um amor vivido ao telemóvel

Ana tem 27 anos e casou-se com Carlos em Portugal, onde estudava. Começaram a namorar também no mês dos namorados, em fevereiro. “Ah sim. Dia 14 de fevereiro. É o Dia de São Valentim, considerado o dia dos namorados, mas celebramos também o nosso aniversário de namoro a 21 de fevereiro”, conta.

Tudo começou quando ela e os seus colegas timorenses decidiram celebrar a passagem do ano, no Terreiro do Paço, em Lisboa. “Encontrei-me com ele em Lisboa, num convívio entre timorenses, na passagem de ano de 2013 para 2014. Conversámos. Perguntou-me se ia ver o fogo de artifício no Terreiro do Paço e eu respondi-lhe que sim. Só que ele não foi connosco”, conta envergonhada.

Foi amor à primeira vista. Não o esqueceu e um ano depois lá estava ela a pedir o contacto do Carlos a uma amiga.“Um dia, quando estudava no meu quarto, de repente, lembrei-me do Carlos e telefonei a uma das minhas amigas para pedir o número de telemóvel dele. Ela deu-mo, eu liguei-lhe e ele atendeu”, conta. No início, ficou preocupada, porque não a reconheceu. “Ele reconheceu depois a minha voz, mas fingia que não me conhecia. Comecei a puxar conversa e ele começou a rir-se. Ok, deu-se ali o clique”, conta Ana corada.

Tudo começou com um telemóvel. Grande parte do namoro foi através de telefone, porque Ana estava em Aveiro e Carlos em Lisboa. Só se encontravam ao fim de semana. Mas nunca mais se separaram. Estão juntos desde 2014 e já tiveram um filho. Carlos teve de ir trabalhar para Inglaterra em 2017 e, por isso, o amor tem sido vivido normalmente à distância. Ana e o seu filho vivem em Díli, mas, graças ao telemóvel e internet, o amor está mais próximo.

Ana não esconde a paixão que sente por Carlos. “Conheço o Carlos. É uma pessoa romântica e ciumenta. Posso lidar com o seu comportamento. Caso entremos numa discussão, deixo-lhe espaço para que ele reflita, porque já aprendi uma coisa na vida, que é bom saber respeitar e aceitar as diferenças dos outros. Isso permite alcançar paz interior. Graças a Deus, somos os pais mais sortudos por termos um menino muito lindo”, conta.

Ana diz que há troca de presentes, mas não no Dia dos Namorados. Só nos aniversários. Mas o mais simples é o que tem mais significado. “Oferecemos presentes um ao outro, quando é possível. Uma coisa que adoro é que há sempre um bolo nos nossos aniversários”, conta.

Questionada sobre os namoros antigamente e os de agora, não têm dúvidas de que a tecnologia mudou a forma como se vive o amor. “O que difere apenas são os avanços tecnológicos por vivermos agora na era de globalização, o que facilita as comunicações, sobretudo das pessoas que têm relações à distância”, afirma Ana.

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