Mariana Nolasco : “No aprender não há limitações. Através dos desafios é que aprendemos”

Augusto Sarmento - Reportagem
Reportajen : Joana Silva
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Realização da conferência sobre liderança/Foto: Arquivo da RYLA

Díli (timorpost.com) – Mariana Nolasco, de 25 anos, é a primeira mulher a liderar a Rotary Youth Leadership Awards Timor Lorosa´e (RYLA-TL – Prémios Rotários de Liderança Juvenil, em português), subsidiária da Rotary International, ocupando o cargo de diretora há cerca de quatro meses.

Natural de Lospalos, é também docente no Dili Institute of Technology (DIT). Em 2018, quando Mariana começou a estudar no departamento de Língua Inglesa da Universidade Nacional Timor Lorosa´e (UNTL), quis envolver-se em organizações não-governamentais para enriquecer a sua experiência. No mesmo ano, contactou a RYLA-TL.

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Acumulando estudos e o envolvimento na organização, a jovem disse que a gestão do tempo é algo difícil, referindo-se às atividades extras, ao estudo, ao emprego e à família. Mas, pouco a pouco, Mariana foi conseguindo organizar-se: “priorizo as atividades que dão benefícios. De segunda a sexta-feira, ofereço o meu tempo ao ensino. Ao sábado e domingo, dedico-me a atividades voluntárias, principalmente na RYLA”.

Timor Post (TP) – Quando se estabeleceu a RYLA-TL?

Mariana – Em Timor-Leste, a RYLA foi estabelecida em 2010. O grupo tem oferecido formação sobre liderança a jovens e organizado serviço comunitário e estágios. Estes três programas têm sido oferecidos a jovens universitários com idades compreendidas entre os 18 e os 28 anos. São atividades anuais. A formação de liderança dura uma semana. Os jovens aprendem a qualidade de liderança através dos líderes de governos e de instituições privadas. Estes líderes partilham os seus conhecimentos sobre formas de liderança. Através disso, os jovens podem-se preparar para a vida profissional futura. A formação pretende dar oportunidades aos jovens para explorar as suas ideias em grupo.

Em relação ao serviço comunitário, na maioria das vezes, os jovens envolvem-se com comunidades. Por exemplo, vivem junto de comunidades carenciadas, observam diretamente as suas condições e, ao mesmo tempo, sentem o que é que estas pessoas sentem. Às vezes, realizamos ações de caridade, oferecendo alguns equipamentos de modo a satisfazer necessidades básicas. No seio do serviço comunitário, nasceu outro programa que se chama Jaco Project (Projeto de Jaco, em português). Constatamos que, na época seca, os veados da ilha não têm água. Então reabilitamos e abastecemos os lugares onde estes animais bebem água.

Desde 2016, a RYLA-TL tem implementado um programa de estágios que pretende preparar melhor o conhecimento dos jovens de acordo com as suas áreas de estudo. Por exemplo, realizamos entrevistas internas aos jovens que vão realizar estágio porque depois, no local de trabalho, eles irão ter essa função. Neste momento, a RYLA-TL tem oito parceiros, entre os quais G7+, a Empresa Diak, a Alola Fundation e o Hiam Health. Estes parceiros disponibilizam algum espaço para os jovens estudarem. Já beneficiaram deste projeto 144 jovens e 97% deles já trabalham.

TP – De que forma a RYLA-TL está alinhada com os objetivos e valores mais amplos da organização Rotary International?

Mariana – O Rotary International tem como objetivo de apoiar os Rotary Clubs na realização de trabalhos voluntários, na prestação de serviços humanitários e na promoção da paz. Alguns membros da RYLA são voluntários, mas damos mais importância aos jovens universitários para aprimorar conhecimentos na área de liderança. Por exemplo, em Timor-Leste, temos clubes como Rotary Club of Dili, o Rotary Club of Lafaek Dili e a própria RYLA-TL. Estas equipas são como uma família, mas realizam trabalhos diferentes.

TP – Há requisitos para fazer parte deste programa? Se sim, quais?

Mariana – Sim, há requisitos. A RYLA-TL abre um concurso e quem quiser ser membro do grupo tem de preencher um formulário online e anexar documentos, como o curriculum vitae, o bilhete de identidade e a certidão nascimento. Os candidatos podem enviar estes documentos por email ou entregar diretamente. Depois de analisarem todos os documentos, os facilitadores do grupo entrevistam os candidatos. Os que passam na entrevista, podem seguir uma formação sobre liderança durante uma semana. Este é o processo que eu também passei para fazer parte da RYLA-TL. Cada ano, admitimos 86 membros, sendo 50% mulheres.

Mariana Nolasco /Foto: Arquivo pessoal

TP – Quando foi o seu primeiro contacto com a RYLA-TL, como começou esta ligação e porquê?

Mariana – Em 2018 candidatei-me à  RYLA-TL. Graças a Deus passei na seleção e integrei no grupo.  Na altura, quando iniciei o meu curso, notei que tinha pouca experiência na área de liderança. Por isso, decidi envolver-me neste tipo de atividade para que, um dia, pudesse estar preparada para funções de líder.

TP – Está no cargo há quatro meses. Quais foram as principais dificuldades com que se deparou até agora?

Mariana – Quando uma pessoa lidera qualquer atividade, claro que enfrenta desafios. Na minha parte, por exemplo, algumas pessoas têm diferentes ideias: acham que não sou apta a cargos de chefia, então tenho de lidar com esta situação. De modo geral, acho que posso lidar, porque já passei por membro da RYLA-TL, como facilitadora, então conheço um pouco dos procedimentos. Também já trabalhei com o diretor cessante e, por isso, já sei e conheço a sua maneira de lidar com os problemas. Às vezes, os membros da família interrogam-nos se esta atividade oferece dinheiro. Isto é uma das dificuldades que enfrentamos, mas isto não é a questão, porque já sei que, um dia, o dinheiro vai procurar-me, entretanto já me sentirei bem preparada.

TP – O que a inspirou a assumir o cargo de diretora da RYLA-TL?

Mariana – Algumas pessoas disseram que era melhor eu ficar apenas com facilitadora, fazer trabalho comunitário ou realizar um estágio, mas para mim, a inspiração que tenho é que quero praticar o que já aprendi na RYLA-TL, principalmente na área de liderança. Quero aprender mais, porque no aprender não há limitações. Só quando morrer, é que termina este processo de aprendizagem. Através dos desafios é que aprendemos.

TP – Como a primeira diretora mulher eleita para o cargo, como pensa contribuir para o crescimento e desenvolvimento do programa?

Mariana – Como diretora, a minha contribuição é liderar, também partilhar os meus conhecimentos que já tinha aprendido  noutra organização e na própria RYLA-TL. Posso dizer que, através do meu cargo, também contribuo para a RYLA. Ofereço o meu tempo, as minhas competências, partilho a minha experiência aos jovens que ainda não conhecem a RYLA e ainda não sabem os procedimentos para se envolver no grupo.

TP – Tornou-se a primeira mulher da história da RYLA-TL a liderar o programa. Como reagiu?

Mariana – Sim, pela primeira vez, uma mulher ocupa um cargo de chefia. Sou eu. Portanto, o meu mandato começou este ano e termina em 2025. Para mim, esta é uma oportunidade brilhante, porque posso aprender mais para me capacitar em qualquer área e partilhar os meus conhecimentos com outras pessoas. Outra coisa é que me sinto orgulhosa com a RYLA-TL, porque dá espaço às mulheres para cargos de liderança. Se compararmos com outras organizações, muitas não dão confiança às mulheres para liderar.

TP – Acha que sua nomeação pode indicar um marco significativo para a promoção da igualdade de género e da participação das mulheres em posições de liderança na comunidade e na sociedade em geral?

Mariana –A RYLA-TL também aplica este equilíbrio de oportunidades entre géneros. Por exemplo, as 86 vagas para o curso de formação sobre liderança tem de ser preenchidas por 43 mulheres e 43 homens.

TP – Já sofreu ou sentiu algum preconceito ao longo da sua colaboração com a RYLA ou em alguma outra circunstância de trabalho, por ser mulher?

Mariana – Na RYLA-TL não sinto nenhum preconceito. Algumas pessoas, que não pertencem ao grupo, dizem que não tenho capacidade para liderar, mas isto não é uma barreira para mim. Se outras mulheres jovens receberem este tipo de insulto, não devem desanimar. Temos de mostrar a nossa aptidão até a sociedade reconhecer que as mulheres podem e devem liderar.

TP – Acha que é mais difícil para uma mulher liderar?

Mariana – Para mim, tanto homens como mulheres podem e devem ocupar cargos. Muitas vezes, as pessoas pensam que as mulheres não podem. Se as mulheres não podem é porque a sociedade não confia nelas. Quando depositarmos a nossa confiança nas mulheres, claro que elas vão ser capazes. A meu ver, neste momento, as comunidades e os líderes começam a dar oportunidades às mulheres e, a partir daí, pode-se evidenciar que as mulheres têm toda a capacidade para liderar.

TP – Que mensagem gostaria de transmitir aos participantes da RYLA-TL sobre o potencial deles e o impacto que podem causar nas suas comunidades e no mundo?

Mariana – Para todos os membros do grupo, gostaria que continuassem a aprender e a contribuir. Gostaria que aprendessem através da realização do estágio e contribuíssem através de trabalho comunitário. Enquanto contribuímos   aprendemos muito mais. Por último, quero apelar aos jovens em geral que se interessam com o programa da RYLA e a outros jovens que se querem envolver no grupo, que não se esqueçam de acompanhar a página do Facebook (RYLA Timor Lorosa´e) para obter informações detalhadas sobre o processo de candidatura. Quando publicarmos informação sobre a candidatura, os jovens podem submeter facilmente os documentos.  Quem quer aprender a ser um bom líder ou quem se quer tornar um bom líder no futuro, pode envolver-se na RYLA-TL, porque esta organização dá oportunidade a todos para aceder a uma carreira profissional.

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