Os timorenses não gostam de gatos?

Augusto Sarmento - Reportagem
Reportajen : Constantino Savio
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Foto: arquivo pessoal

Timor Post – “Parte-me o coração quando vejo as pessoas a maltratarem os gatos, como se fossem os piores inimigos do mundo. Os gatos são criaturas adoráveis e são uma boa companhia”, disse Letízia Torrezão, uma jovem de 26 anos, residente em Aileu e amante de gatos.

Em Timor-Leste, especialmente no mundo rural ou em áreas remotas, raramente encontramos pessoas que convivem amistosamente com gatos, porque todos preferem os cães como animais de companhia, usam-nos para caçar e até para comê-los. Durante muito tempo, especialistas acreditavam que os felinos apenas “toleravam” os humanos em troca de comida. Uma série de estudos desmistificou essa “má” fama de “bichinhos interesseiros”. Um desses estudos, publicado em 2017, por investigadoras da Universidade de Oregon (EUA), provou, por exemplo, que os gatos, na verdade, muitas vezes preferem a companhia dos humanos à comida e, concomitantemente, não se deixam domesticar em troca de alimentos.

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“Quando era criança, tínhamos uma gata em casa que se chamava ‘Linda’. A Linda tinha pelo castanho e olhos azuis e era a minha amiga de infância. Onde eu estava, estava ela”, recordou Letízia. O que a faz feliz quando se encontra com gatos, assegura a jovem, são os belos olhos e os seus pelos macios e sedosos. “Quando a minha gata faleceu, chorei muito. Desejava ter um novo gato ou gata, mas ninguém me ofereceu”, contou com um olhar perdido no horizonte.

“O meu vizinho tem um gato branco, chama-se ‘Bus Bus’. Às vezes, passo pela sua casa para brincar com o ‘Bus Bus’, acariciá-lo, dar-lhe comida, vê-lo saltar e caçar ratos”, contou Letízia.

Toda a gente vê gatos, mas nem todos gostam deles. É o caso de Zacarias Mau-Loe, de 30 anos, enfermeiro no Hospital Nacional Guido Valadares, que afirmou preferir cães. Segundo Zacarias, os gatos podem propagar doenças às pessoas através da saliva e dos pelos. “Não gosto de ver os olhos dos gatos, são aterradores!”, exclamou Zacarias. A única coisa que o enfermeiro aprecia nos gatos são os seus pelos que, a seu ver, “são giros e atraentes, tenho muito desejo de tocar neles, mas os olhos dos gatos não me permitem apreciar e acariciar a sua beleza”, acusou o enfermeiro.

Rosita Pinto, formadora de língua portuguesa no Centro Comunitário de Aprendizagem em Covalima, também defende a ideia de que os gatos trazem doenças às pessoas. Na opinião de Rosita, “quando pegamos na cauda dos gatos ou cães as nossas mãos ficam a tremer, então não podemos manusear pratos e outras coisas de cozinha. Tenho medo de gatos, especialmente dos dentes e das garras que são muito finas e nos podem arranhar e provocar feridas”, afirmou a formadora.

Para Rosita, a crença timorense de que feiticeiros utilizam gatos para fazer mal aos outros é real. “De facto, quando os gatos entram em confronto, os seus sons são aterradores, e é aí que o demónio vem!”, disse a jovem.

Segundo a crença timorense, quando os gatos choram à noite, as pessoas creem que foram enviados pelos feiticeiros, por isso atiram-lhes água benta e brasas para os expulsarem. Há quem não creia nestas crenças, como é o caso de Letízia e Zacarias, que acreditam que este é apenas um mito e não tem nada a ver com feiticeiros.

Hermenegildo Tilman, jornalista do Timor Post disse que é afortunado por ter uma família que ama gatos. “Na minha família todos amam gatos, temos quatro em casa que se chamam: Sonya, Mário, Quity e Laia’e, acrescentou o jornalista, “os gatos são bons acompanhantes, quando leio ou quero tomar um café, gosto de tê-los no meu colo, para poder acariciá-los e afagar os seus bigodes”.

O jornalista contou, sorrindo, que o que mais ama nos gatos são “os seus olhos e a sua voz, mesmo quando fazem muito barulho na hora do acasalamento”. Para Hermenegildo, se domesticarmos os gatos, eles vão livrar-nos dos ratos, porque os comem.

Em Timor-Leste existe uma variedade de crenças em relação a animais. Algumas regiões têm os corvos como lulik (sagrados) e o aparecimento da ave numa casa é interpretado como antecâmara da morte de alguém. Na aldeia de Defada’e (Baucau) é curiosa a simbologia que se atribui aos cães: quem, entre outros, dormir num local onde um cão já dormiu, comer de uma panela mal lavada onde um cão comeu ou pisar excrementos de cão, corre o risco de obter algumas das caraterísticas da “personalidade” canina. Macacos, cavalos e galos são também associados a acontecimentos infelizes se consumidos.

Felizmente, são cada vez mais as pessoas que acham que os gatos também são bons acompanhantes como os cães, até adoram estes felinos e consideram-nos membros da família.

 

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