Politicus: Prostitutas das ideologias

Timor Post - Opinião
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Por Afmend Sarmento

Prostituição Ideológica

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Nos tratados de filosofia, sociologia e ciência política, o termo ideologia é muitas vezes utilizado com frequência e com significados diferentes. Para o Norberto Bobbio (1998, 586), a “Ideologia designa o genus, ou a species diversamente definida”, isto é, constituída por dois significados diferentes, nomeadamente, o significado fraco que designa “os sistemas de crenças políticas”, quer dizer, “um conjunto de ideias e de valores respeitantes à ordem pública e tendo como função orientar os comportamentos políticos coletivos”.

Este sistema de crenças políticas reflete-se nas ideologias defendidas pelos partidos políticos, por exemplo, a Fretilin adopta uma ideologia de socialismo; CNRT defende uma ideologia de social-democracia e o PD pretende um liberalismo social, entre outros partidos. No entanto, o significado forte fundamenta-se e enraíza-se no conceito de Ideologia Marxista, através da magna obra de Ideologia dos Alemães, onde “entendido como falsa consciência das relações de domínio entre as classes, e se diferencia claramente do primeiro porque mantém, no próprio centro, diversamente modificada, corrigida ou alterada pelos vários autores, a noção da falsidade: a Ideologia é uma crença falsa (Bobbio, 1998, 586).

Esta falsa crença reflete-se na propaganda eleitoral através da retórica política por ex parte principis – isto é, os detentores do poder para cativar os votos do ex parte populi, principalmente, os semper fidelis militantes e simpatizantes dos partidos políticos, por exemplo, ainda está vivo na memória o momento histórico da Campanha Parlamentar de 2018 da Aliança de Mudança e Progresso (AMP) em Oekussi, onde Taur Matan Ruak gritava no palco de que “tinha um sonho para afugentar dali um feitiçeiro chamado Arsénio Bano”, passados alguns momentos, ele próprio exonerou um dos fundadores do Estado como José Luis Guterres, para nomear e empossar aquele “feitiçeiro”.

Outro exemplo, alguns líderes da organização não governamental foram porta-vozes nas manifestações sobre a delimitação da fronteira marítima e contra a injustiça social como a pensão vitalícia e à compra do prado, porém, depois de ter assumido alguns cargos oferecidos pelos partidos políticos na governação, percam a sua “consciência crítica da nação” (Papa Francisco) e tornam-se porta-vozes do Governo a lançar propagandas em defesa dos detentores do poder nas redes sociais.

Lembrando a lícita “mentira útil” que não apenas foi dito pelo “diabólico” Maquiavel (Bobbio, 2000, 389), mas também a “nobre mentira” de Platão, significa, deve estar no centro: o interesse do Estado de Timor-Leste, porém, este termo constitui como uma máscara  por detrás das quais se esconde a cobiça de poder e de riqueza.

Estas pessoas são “prostitutas intelectuiais” ou “sofistas” que vendem as suas sabedorias em detrimento da defesa do direito mais fundamental deste povo, para ter acesso a uma vida mais digna nesta magna casa: Timor Lorosa’e.

Nestas indagaçōes fundamentais através das exposições seguintes, quero trazer ao público aquilo que foi pronunciado pelo John Swinton, proeminiente jornalista de New Yorke, num banquete realizado em 1880, onde ele frisou:

“There is no such thing in Timor-Leste as an independent (…). You know it and I know it. There is not one of you who dares to write his honest opinions, and if you did you know beforehand that you would never appear in…. The business of the politic is to destroy the truth, to lie outright, to pervert, to vilify, to fawn at the feet of mammon, and to sell his country and his race for his daily bread. You know it and I know it, and what folly is this… We are the tools and vassals of politic men behind the scenes of political parties. We are the jumping jacks, they pull the strings and we dance. Our talents, our possibilities and our lives are all the property of other men. We are intellectual prostitutes” (Boyer, 1955, 81. Itálico é meu).

 Analisando profundamente o texto citado acima, podemos argumentar que o trabalho dos políticos é para destruir a verdade e mentir abertamente perante o povo, por exemplo, a maior luta do partido Fretilin é para libertar a pátria, porém depois de obter a vitória sobre a delimitação da fronteira marítima, os representantes deste partido histórico votaram contra o Tratado da Fronteira Marítima, apesar de o referido Tratado foi aprovado no Conselho de Ministros liderado por Dr. Marí Alkatiri, onde foi depositado “o pleno  poder” ao Dr. Ágio Pereira, para assinar  o Tratado supramencionado sob a presença do Secretário Geral das Nações Unidas, Dr. António Guterres, no dia 6 de março de 2018.  Numa só palavra, este  representantes “vendiam”  o supremo interesse do nosso amado país e este querido povo, em troca dos benefícios pessoais e partidários, onde estes continuam a saborear o pão de cada dia, isto é, o sálario, a pensão vitalícia e outras regalias.

Outro exemplo, um deputado utilizou a Plenaria para afirmar que os manifestantes da AMN são provinientes dos municípios que disturbam a cidade, por isso, solicitou a estes para adaptarem com os jovens da cidade. Enquanto, ele próprio é também proviniente de zona rural e passa sempre os fins-de-semanas nos municípios para migalhar a simpatia do povo para o partido que irá arrumar a casa no futuro próximo. Que má lição aprendemos!

De facto, o povo torna-se instrumentos e vassalos daqueles políticos mascarados e camuflados atrás dos partidos para atingirem os seus interesses pessoais e partidários. O voto sagrado do povo, principalmente, dos militantes e simpatisantes, serve-se como escada para que estes possam subir de cada grau, cuja finalidade é para obter “gaji buta”, sem produzir nada para o desenvolvimento e sustentabilidade deste amado país. São, de facto, “prostitutas políticas” pois vendem a sua “honestidade intelectual” em troca de cargos políticos para obter benefícios económicos e outras regalias, como bem dito uma advertência da sabedoria antiga, inter arma silent leges (quando as armas falam, as leis silenciam), isto é, quando fala o “big boss” perde-se o raciocínio lógico e a honestidade intelectual.

Deixam-se conduzir pelos “preman politik”, que quase de forma idêntica ao que frisou por Dr. Rui Araújo: “polítiku sira, barak maka sai broker”, finalmente, as ideologias dos partidos contaminados com “os caprichos” de artes marciais, a conduzir o destino do país. Pois, estes líderes exerciam um altum dominium sobre os intelectuais que estão na governação, não permitindo implementar a capacidade técnica-científica adquirida no “campus” nos exercícios das suas funções, para o bem da sociedade. Quo vadis Timor-Leste?

Depois de 20 anos de independência, queremos destruir este alicerce construído em cima do “sangue e ossos” dos mártires inocentes tombados para erguer bem lá no alto a bandeira da nossa nação? É o momento exato e oportunidade única para reconfigurar a política e “procurarmos o verdadeiro caminho para a solução acertada e inadiável para os problemas concretos do nosso povo” (Gusmão, 2018, 103), por isso, devemo-nos assumir a responsabilidade para mudar a situação do nosso amado país, através do nosso exercício cívico nas urnas, que será realizado no dia 21 de maio de 2023.

Políticamente falando, a natureza humana e política são constituídas, conforme Bobbio (1998, 168 ), expoente filósofo e politólogo italiano, destaca três características essensiais e fundamentais, designadamente: a) homem é um animal teleológico – todo o homem, de certa forma, tem um sonho e uma meta a atingir na vida, isto é, para alcançar a eudaimonia em grego conforme Aristóteles, onde os latinos traduziram para os dois termos: summum bonum e bonum commune.

Os javaneses costumavam empregar a palavra: “gemah ripah loh jinawi” (Budiarjo, 2008, 13) e entende-se na expressão “the good life” em Inglés que, no entender de Bobbio (2000, 120) “não é viver mas viver bem”, ou seja, o fim teleológico da política desejado pelo povo expressado através do seu voto nas urnas. b) O homem é um animal simbólico – O ser humano é o “homo simbolicus” dotado de inteligência para saber interpretar e dar significados aos símbolos existentes no mundo através de utilização da linguagem quer gestual quer verbal, nas suas interações diárias na sociedade. Por isso, a comunicação é a conditio sine qua non inerente a vida do homem.

Este utiliza “a linguagem para exprimir ideias, intenções, desejos, afectos, atitudes, instruções, inclusive para a sua perfeição e o desenvolvimento de um instrumento privilegiado da comunicação humana: a linguagem” (Torres, 2012, 3). Em suma, é através do uso da “linguagem que se torna possível a instituição social e os sistemas de valores” (Temer, 2004, 13) para o funcionamento da sociedade e o bem da humanidade.

Na política, a linguagem torna-se o veículo que liga ao eleitorado, principalmente, o uso da retórica, isto é, a arte de persuadir e cativar os militantes e simpatisantes, para votar nos seus partidos. Por isso, os partidos políticos existentes no país utilizam estes símbolos na sua interação com a sociedade, por exemplo, o Khunto utiliza o símbolo cultural como “juramentu”. c) O homem é um animal ideológico – este animal ideológico utiliza os valores exitentes no sistema cultural de cada sociedade, para racionalizar e orientar os comportamentos de cada indivíduo, a fim de obter o consenso dos outros; até convencer os outros para aceitarem “ideologias aparentemente humanistas” (Papa Bento XVI) que estão escondidas sob o interesse nacional, por exemplo, a intenção de elevar a taxa de importação de bebidas açucaradas sob a máscara da saúde pública, enquanto, as entidades competentes não sabem gerir o lixo que está a destruir a imagem da cidade de Díli, principalmente, contribuiu para a elevada taxa de dengue nos últimos momentos.

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