Díli- Júlio Aparício, académico da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), considera que o desenvolvimento nacional implica pessoas com experiência profissional e capacidade intelectual, o que não condiz com a composição do atual Governo, onde o Primeiro-Ministro emprega pessoas com pouca capacidade.
“A meu ver, a estrutura deste Governo não preenche o requisito de ‘pessoas certas nos lugares certos’. Na verdade, é preciso ver a qualidade, habilitações e experiência [dos candidatos]”, defendeu Júlio Aparício, esta quarta-feira (24/06), aos jornalistas do Timor Post, no seu local de trabalho, no Campus da UNTL, Díli.
Segundo o académico, os atuais membros do Executivo são escolhidos por terem relações próximas ou familiares com os dirigentes no poder e isto poderá prejudicar a imagem do próprio Governo.
“Alguns membros do Governo são colocados apenas por serem oriundos do mesmo partido político ou por terem ganho a simpatia dos líderes partidários [no poder]. Esta situação criará uma governação menos sólida e falta de qualidade”, considerou.
O analista referiu ainda que o desempenho de pessoas sem habilitações literárias, profissionais ou experiência não permitirá levar o povo rumo ao seu bem-estar.
“Ser membro do Governo não é uma brincadeira. Não podemos pensar em ser governantes apenas para ganhar dinheiro. Isto prejudicará a dignidade do partido e do Governo”, explicou.
Para o académico, do I ao VIII Governo, todos os partidos escolheram membros para o Executivo por se conhecerem uns aos outros e sem analisarem os antecedentes educacionais dos candidatos.
Horta: Governo deve cumprir promessas
O Premiado Nobel da Paz José Ramos Horta pediu, por sua vez, ao Governo que cumprisse com as suas promessas.
“Seria bom que o Executivo completasse o mandato, mas tudo depende dos seus membros. Devem garantir ao povo que todos cumprem com as promessas e exercem as suas funções com responsabilidade. Isto depende ainda do Primeiro-Ministro, pois é o responsável número um”, disse Horta aos jornalistas, nesta terça-feira (23/06), na Escola Básica Central (EBC) de Fatumeta.
Segundo Ramos Horta, o número de membros do atual Governo timorense é superior ao de outros países, como o da Austrália e da Indonésia.
Horta mostrou-se ainda duvidoso de que, em dois anos, esta nova composição governativa possa trazer mudanças para o país.
“Apesar de o Chefe do Governo se manter, dois terços dos seus elementos são novos. Temos membros do Executivo a mais, cerca de 40, ultrapassando os da Austrália e da Indonésia”, afirmou.
Ramos defendeu igualmente que governar significa dar prioridade aos interesses comuns e transversais, destacando, por isso, a importância do papel do Primeiro-Ministro em coordenar, orientar e “garantir a disciplina” dos seus membros na execução do Orçamento Geral do Estado.
Para o Nobel da Paz, os governantes devem cumprir com a legislação, ter competência e capacidade técnica e profissional, interiorizando ainda as tarefas da pasta que tutelam.
Já Victor Soares, docente da UNTL, pediu, por seu turno, que fossem nomeadas pessoas competentes para cada função do Governo.
“As pessoas que assumem os cargos de ministros e de secretários de Estado têm de preencher critérios. O Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, por exemplo, deve ser uma pessoa que estudou Relações Internacionais. Caso contrário, vai ser complicado”, disse ao Timor Post, na UNTL.
Victor Soares insistiu que os membros do Governo têm de ser pessoas com capacidade profissional nas áreas que assumem.
“A meu ver, a nomeação dos membros dos nossos sucessivos governos é feita de uma forma aleatória. No entanto, temos de aceitar isto, pois ainda estamos com falta de recursos humanos”, referiu.
“A posição política não precisa de habilitações académicas, pois a cadeira é recebida devido ao apoio dos seus militantes. Isto é algo que acontece em Timor. Contudo, é melhor, no futuro, colocarmos pessoas com capacidade no lugar certo, uma vez que queremos os profissionais a gerir este país”, concluiu.
Hugo da Costa: Governo completo não é garantia de desenvolvimento
O Decano da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Díli (UNDIL), Hugo Lourenço da Costa, disse que a nova estrutura do VIII Governo não garantirá o desenvolvimento do país em virtude de o mandato ser relativamente de curto prazo.
“Vivemos, entre 2017 e 2020, um longo período de impasse político, obrigando o país a aplicar o regime em duodécimos. Este cenário não contribuiu para o desenvolvimento de Timor-Leste nem para a melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos”, afirmou ao Timor Post, na quinta-feira (25/06).
Hugo da Costa acrescentou que, caso o Orçamento Geral do Estado apresentado pelo Executivo no Parlamento Nacional venha a ser aprovado, será, contudo, difícil atingir as metas para o desenvolvimento do país devido ao foco nas futuras eleições. (ono/yto/mj4)
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