30 de Agosto de 1999 – Mate Dala Ida Dalan ba Libertasaun Nasional

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Contribuinte: Daniel Damaia

Ernesto Ximenez, também conhecido por Mau Sabu, no dia 30 de agosto de 1999, dia do referendo em Timor-Leste, pensou que “só se morre uma vez”. Mau Sabu tinha 86 anos nesse dia. Não conseguia caminhar. Mesmo assim percorreu quase toda a extensão da estrada de Hatulia para ir de Foeteto até ao centro de voto em Ermera. Demorou quase dois dias. Porquê? Porque, achava ele, só se morre uma vez. Mate dala ida.

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Tal como Mau Sabu, outros katuas e feriks, com bengalas para ajudar a caminhar, se deslocaram aos centros de votação. E se os katuas fizeram esse sacrifício como não fariam os jovens? Mais de 452.000 timorenses pensaram igual. Era o seu destino: votar pela autodeterminação do povo timorense, pela liberdade, pela independência. Foi uma oportunidade histórica que não foi desperdiçada. O referendo era o culminar de um espírito de sacrifício, de emancipação, quando parecia que a esperança não tinha condições para existir. Quando alguns viam os filhos, os pais, as esposas desaparecerem ou morrerem, foram exercer o direito e o dever de voto. Não o fizeram por um sentido de vingança, mas por um sentido de justiça. O referendo de 30 de agosto de 1999 assumiu a conclusão de uma luta legal para a libertação de um povo.

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No dia 4 de setembro de 1999 os resultados foram conhecidos. Quase 80% dos votantes rejeitaram a autonomia especial e optaram pela independência total do país. O povo timorense provou que se podia mudar a história, por via da paz. Mas o período seguinte não foi pacífico pelo menos até 19 de setembro quando uma força internacional da ONU chegou. Muitas centenas de timorenses morreram às mãos das milícias no rescaldo do referendo. Outros milhares ficaram feridos, sem família ou sem casa. Logo após o referendo o povo soube conciliar-se, ultrapassar as suas diferenças, unir-se em torno do que era importante: a reconstrução do país, mas não a reconstrução da identidade timorense. A identidade timorense nunca se apagou e, achamos, até se fortaleceu com a guerra da ocupação e a luta pela libertação.

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Ernesto Ximenez, Mau Sabu, como muitos timorenses já num ambiente reconciliado de paz, participou na reconstrução e o desenvolvimento nacional à sua maneira: trabalhando em prol da geração seguinte: os filhos e netos. Ajudou, da terra queimada e das cinzas, a reconstruir a escola e a pequena igreja da sua aldeia. Se os políticos tomam decisões globais pela reconstrução e desenvolvimento nacional, katuas como Mau Sabu fazem-no localmente. A reconstrução e desenvolvimento nacional fazem-se assim: não só pela construção e reabilitação de edifícios, mas pela aposta na educação, nas escolas, na criação de empregos, em medidas de proteção e solidariedade social e na confiança depositada ao povo timorense.

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O resultado do referendo foi só o primeiro episódio que, das cinzas e da reconciliação, conduziu à reconstrução e desenvolvimento nacional. O povo pedia que fosse mais rápido, mais socialmente justo e que abarcasse mais pessoas, principalmente as mais necessitadas. Que o referendo seja recordado como um episódio de unanimidade em torno de uma ideia, de união de uma mesma vontade, de um processo de reconstrução e desenvolvimento nacional que não pode parar. Que o referendo seja evocado, seja lembrado, seja ensinado, que o referendo seja hoje celebrado.

Ami hanoin: só se morre uma vez no percurso da libertação nacional – mate dala ida dalan ba libertasaun nasional.

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