Inclusão de artes marciais no currículo escolar divide opiniões

Mario da Costa - Desporto
Reportajen : Constantino Savio
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Foto: Reprodução Facebook (Artes marciais e Desporto de Combate em Timor-Leste)

Dili (timorpost.com) – Académicos e sociedade civil têm-se mostrado preocupados com a declaração do Ministro da Educação, Juventude e Desporto (MEJD), Armindo Maia, que se mostrou favorável à inclusão das artes marciais no currículo escolar. Na última reunião do Conselho de Ministros (25.01), a possibilidade de o Governo criar uma Lei para regulamentar as artes marciais como desporto foi apresentada.

Os conflitos entre grupos de artes marciais rivais estão entre os problemas que mais têm causado instabilidade social em Timor-Leste. Como consequência, pessoas morreram, outras ficaram feridas ou perderam casas, meios de transporte, negócios e até o bom-senso.

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O assunto tem sido tema de conversa entre os cidadãos do país. Para tentar perceber melhor o que tem motivado as polémicas a nível nacional, sobretudo nas redes sociais, o Timor Post tentou falar com alguns académicos e elementos da sociedade civil.

Vantagens e desvantagens

“As artes marciais são uma criação humana que não ensina valores científicos. Por isso, não é necessário incluir na escola”, disse Jerónimo de Jesus Gonçalves, ex-bolseiro de Cuba.

Para Jerónimo, é estranha esta inclusão, pois “não traz vantagens para o desenvolvimento dos estudantes, sobretudo na formação científica e pedagógica”. As artes marciais, no contexto timorense, não são apenas para uma pessoa aprender a defender-se. É um movimento que congrega muita gente, quase como uma cultura de massas.

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O jovem recomendou às partes competentes para investirem num currículo mais inovador e integrado, que inclua temas mais urgentes como a tecnologia, a criatividade, a formação de valores éticos e morais.

Já Francisco da Ressurreição Barros, estudante do 4.º ano de teologia no Instituto Superior de Filosofia e Teologia (ISFIT), acredita que as artes marciais são uma das causas da insegurança na sociedade. Por essa razão, não aceita totalmente a ideia da inclusão das práticas no sistema escolar.

O estudante do ISFIT sugeriu deixar este assunto para o futuro, para “quando a nossa sociedade estiver preparada”, porque, segundo o que observou, “alguns estudantes podem perder o respeito pelos professores, caso defendam grupos de artes marciais diferentes”.

“É importante que as pessoas percebam o sentido das artes marciais: os valores, a cultura, etc. No fundo, temos exemplos recentes de conflitos que dividiram o país, trazer as artes marciais para o contexto escolar só vai favorecer esse clima de insegurança e instabilidade social”, argumentou Francisco.

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O estudante sugeriu que a continuidade dos planos traçados pelos governos anteriores seria um caminho para o Estado criar um padrão no sistema educacional. “Uma ideia não deixa de ser boa porque um governo muda, e pode abrir sempre caminho para criar novos planos ou atualizar os que ainda não são suficientes, sempre com o objetivo de garantir uma educação de boa qualidade para todos”, observou.

Para o professor de Matemática do Instituto São João Brito (ISJB), Alexandre Basílio Guterres, “incorporar o tema das artes marciais no currículo educacional dificulta o futuro dos jovens”.

Ainda assim, o docente destacou aspetos positivos na possível integração, visto que a medida pode ser capaz de ajudar a harmonizar diferentes visões de mundo e formas de pensar, através da convivência e diálogo. No entanto, “devem sensibilizar primeiro as pessoas, para que compreendam que as artes marciais também têm valores espirituais e morais, com respeito mútuo entre os cidadãos” .

Por sua vez, Abel Amaral, Diretor Executivo interino da Fundação Mahein (FM), organização que trata dos assuntos da Defesa e Segurança Pública, demonstrou desconfiança em relação à inclusão das artes marciais no currículo escolar.

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Para o Diretor, existem prioridades mais urgentes na área da Educação que precisam ser debatidas.

“A educação enfrenta muitas dificuldades que precisam de ser resolvidas urgentemente. Quanto às infraestruturas, muitos estudantes não têm lugares adequados e dignos e ao longo de todo o processo de aprendizagem. Quanto aos recursos humanos, não há uma formação contínua de professores, o que não resolve os problemas com os docentes contratados e voluntários. Faltam ainda os materiais básicos para o ensino, como manuais, cadeiras, mesas, acessórios, etc.”, refletiu Abel.

Vinte anos passados sobre a restauração da independência, a sociedade ainda anda preocupada com a qualidade e com o rumo da educação timorense. O baixo investimento a nível educacional é preocupante. Por exemplo, nos últimos dois anos foram aprovados os maiores Orçamentos Gerais do Estado da história de Timor-Leste, mas o orçamento alocado no setor da educação não chega a 5% – conforme dados do Portal da Transparência do Governo.

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